SINAL DE ALERTA (1978)
A novela Sinal de Alerta não agradou o público. A audiência era baixa e quase não me lembro do que fazia na história. Pouco depois desta época, fazia uma peça de teatro, e na porta do meu camarim, um dia, apareceu o Dias Gomes, e ele se desculpou pelo meu personagem na novela. Ele disse que tinha errado a mão. Dias Gomes fazia dessas coisas.
Outra coisa que me lembro é que o Paulo Gracindo gostava muito de um bolinho de bacalhau de um determinado bar em Copacabana, mas não gostava de ir lá sozinho. Algumas vezes fomos só ele e eu e outras ia também o Gracindo Jr e uma ou outra pessoa amiga. O bolinho de fato era sensacional, com um chope geladinho era uma maravilha.
O Paulo tinha fama de assistir a todos os capítulos da novela. Um dia fomos fazer uma externa numa boate do Leblon. Gravamos uma cena e fomos para o banheiro da boate trocar de roupa. Era de tarde e a boate estava fechada para que pudéssemos tocar a gravação. Sabendo que o Paulo assistia a tudo, tive a infeliz idéia de arrancar dele um comentário sobre o meu desempenho como ator naquela novela. Então falei:
- Estou me sentindo muito mal nesse personagem.
O Paulo não falou nada, ou melhor, emitiu apenas um grunhido "hummm!". Então prossegui:
- Acho que nunca me senti tão mal numa novela.
Ele continuou mudo. Nenhuma palavra de apoio, nada. Apenas ouvi o grunhido "hummm!". Nesse momento decidi partir para o tudo ou nada:
- Sabe Paulo, nunca me senti tão canastrão assim na minha vida.
Aí o Paulo voltou à vida e me respondeu:
- Bobagem, Botelho. Não seja modesto!!
Em 1980, fazia a peça "À Direita do Presidente", com Araci Balabanian, Gracindo Jr e André Villon, e numa determinada noite, Gracindo, que era como um irmão mais velho para mim, me trouxe a notícia:
- Olhe, aquele concurso que você queria fazer, voltou!
O concurso a que ele se referia era o de Fiscal de Imposto de Renda, que eu já havia comentado com ele anos antes, mas que havia depois desistido. Então pensei: porque não? Na seqüência do curso de jornalismo tinha também feito direito e sempre tive um bom desempenho com matemática. Não perdia muito em tentar a sorte.
Foi bem interessante. Eram 108 mil candidatos para 500 vagas. Quando fui fazer as provas, fui muito reconhecido e pouco levado a sério. Percebi que falavam de mim a minha passagem.
As pessoas não se dão conta que no meio artístico tem muito glamour e que frequentemente ofusca as muitas dificuldades. Vi vários colegas passarem muitas dificuldades, como por exemplo, a gloriosa Eliana Macedo, Yara Cortes e muitas outras e outros.
Existe um número muito grande de artistas que são sócios de restaurantes, ou tem fazendas de gado, como por exemplo Tarcisio ou Juca de Oliveira, ou haras como o Lima Duarte, ou pousadas e hotéis, e por aí vai. E eu, um pé rapado, navegava a milhas de distâncias dessas opções. Pensava em Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Guimarães Rosa, Manoel Bandeira. Como vê, pensava grande.
Fiz as provas e passei. Não me lembro direito. Eram quatro ou seis provas, 16 assuntos. Cada prova com a média de 8 horas de duração. Não me chamaram e segui trabalhando.
(continua)