BOAS OU MÁS Fera Radical trouxe mocinha e vilã de personalidades e condutas praticamente idênticas .
Por Eduardo Secco
“O demônio se veste de anjo para melhor enfeitiçar”. Com esta frase, Joana Flores (Yara Amaral) alertava o filho Fernando (José Mayer) dos perigos que a aparentemente inofensiva Cláudia (Malu Mader) poderia trazer ao rapaz. “Ela foi lá dar a última cartada. Ela foi lá pra me matar!” Assim, Cláudia rebatia as acusações de Joana, tendo como interlocutor o mesmo Fernando. Responsáveis pelo conflito central de Fera Radical, trama de Walter Negrão exibida em 1988, Cláudia e Joana fugiam do maniqueísmo vigente em quase todas as telenovelas, deixando de lado os perfis clássicos de mocinha e vilã. As duas possuíam contornos semelhantes e lutavam, cada uma a sua forma, pelo mesmo intento: defenderem suas famílias. Enquanto Cláudia almejava vingança contra os responsáveis pela chacina que dizimou os Silva, Joana tentava evitar a dissolução dos Flores, iniciada após a chegada da analista de sistemas à pequena cidade de Rio Novo, no interior fluminense.
Atendendo ao chamado de Heitor (Thales Pan Chacon), Cláudia passa a trabalhar no frigorífico da família Flores, escondendo consigo o real motivo que a fez aceitar tal emprego: descobrir o responsável pela morte de seus pais e vingar-se do mesmo. Lançando mão de sua aparente fragilidade e de seu charme, Cláudia consegue conquistar Heitor e Fernando, balançando a relação entre os irmãos, e ganha a confiança de Altino (Paulo Goulart), patriarca da família a quem Cláudia atribuía, de início, a autoria do crime do qual buscava vingança.
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Joana se incomodava com a presença da intrusa e tentava, de modo discreto, livrar-se da moça, sempre contando com o respaldo de sua filha, Olívia (Denise Del Vecchio), e de Marília (Carla Camuratti), noiva de Heitor e apaixonada por Fernando. Conforme Cláudia ganha terreno, Joana perde sua sanidade e passa a recorrer a artifícios como chantagens, dissimulação e até mesmo atos de terrorismo, como quando ateia fogo à cinco bonecos, que simbolizavam a família de Cláudia, amedrontando esta, que sofre com constantes pesadelos relacionados ao dia da chacina.
No confronto final, Joana, munida de um revólver, sai à procura de Cláudia, a esta altura provando o vestido de noiva que usaria em seu casamento com Fernando. No embate entre as duas, Cláudia aperta o gatilho, disparando contra Joana e conseguindo, enfim, concretizar sua vingança. Era o final do conflito de duas mulheres de personalidade forte, com objetivos parecidos e atitudes semelhantes. Era a fuga do óbvio, da mocinha clássica incapaz de pegar em uma arma e da vilã que agia somente por maldade. Fuga esta que transformou Fera Radical na segunda maior audiência da faixa das 18 horas, e marcou para sempre as trajetórias de Malu Mader e Yara Amaral, perfeitas na criação de Cláudia e Joana. Mais dois grandes personagens para a galeria de tipos inesquecíveis da nossa teledramaturgia.