PERDIDOS NA NOITE
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Reportagem de Rosângela Petta, publicada pelo Jornal do Brasil (1987).
PERDIDOS, UM ACHADO
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Abastecidos de cerveja, belisquetes e com um ou outro amigo - ou amiga - eventual SÃO PAULO - Adivinhe qual é o programa de televisão "do tempo em que bicha solitária era apenas uma bicha sem companhia" ... ? Para quem costuma puxar um comando da madrugada no fim de semana, está fácil: trata-se do Perdidos na Noite de Fausto Silva, no ar todo sábado pela TV Bandeirantes, a partir das 22h, e que em sua próxima edição está mais hilário que nunca.Faustão se garantiu, na TV graças à maneira debochada de falar do próprio canal (''Por que vocês não mudam pra Globo? Lá está passando o filme Tootsie, é mole?"), ao escracho bem produzido por Lucimara Parisi e uma equipe de quase 20 pessoas, às imitações da dupla Tatá e Escova, e a um incalculável repertório das mais variadas abobrinhas. Juntando a tudo isso participações de bandas de rock, pagodeiros e aspirantes a misses de clube, o resultado é uma estimulante vitamina de três horas. E não só para os insones ou sem-programa de um "sabadão", como para a platéia que sempre lota o Teatro Zaccaro, em São Paulo, onde o Perdidos é gravado toda terça-feira.Uma platéia, aliás, quase toda de garotões de folia paulistana, empunhando cartazes, perucas coloridas e insólitos absorventes aderentes à camiseta, à testa, ao chapéu... Faustão puxa aplausos, gargalhadas e eventualmente algumas vaias (quando pede para a sonoplastia puxar um baladão mais brega) e dispara agradecimentos pela audiência a uma relação de nomes entre a ficção e a realidade - de Luiz Ignácio Lula da Silva à dupla caipira Tadeu e Tadando.Nas atrações musicais deste sábado, um bom pedaço do Brasil: A banda Gueto lança seu primeiro Lp pela gravadora que Fausto chama de ''Warner Brothers Picaretation", e aproveita para perguntar ao baterista se, na sua profissão, é melhor usar desodorante antes ou depois do show. Em seguida, entra o grupo de forró de Mosquitinho, apresentado como "um baiano que mora em Curitiba'' e o público canta junto o Dona-Joana-sua filha-quer-me-dar-ôi. Tatâ e Escova imitam Roberto e Erasmo Carlos para a entrada de Wanderlea e grupo - ela toda em peles da cintura pra cima e do joelho pra baixo - seguida do brega Gilberto Lemos. Fechando a noite, um show de Bezerra da Silva, que na entrevista já avisa não acreditar em eleições diretas.Só me preocupo com o meu futuro - golpeia Bezerra, aplaudidíssimo.Não que ele esteja solitário em suas posições políticas. Durante todo o programa, passeia pelo palco uma tartaruga com uma etiqueta escrito Constituinte. Tatâ e Escova voltam à cena para que "Paulo Henrique Tamborim" (um terrível clone do comentarista econômico da Globo) entreviste o ministro "Brecha", que só consegue rir da crise. Sem contar outras engraçadíssimas agulhadas da dupla do Perdidos, no quadro "A brega e o chique" (onde Marília Brega diz "eu ainda confio em você, você tem amígdalas?") e nas imitações de Lula, Ulysses Guimarães, Jânio Quadros, Brizola, Fagner, Clodovil (pergunta: "Oh, Clô, com o preço do tecido, você anda levando muito metro pra casa?") e as globas Sandra Passarinho e Leila Cordeiro, num duo de dons de bichos.Quadro fixo no programa, o Acredite se Quiser faz propaganda do tratamento capilar que transforma carecas em galãs. E o momento de arte leva, desta vez, as esculturas de Calabrone para o Perdidos, por onde já passaram os pichadores do grupo Tupi Não Dá e Ivald Granato. Mas sensação mesmo fazem as coxas e traseiros das candidatas ao Concurso Senhorita São Paulo, já em sua terceira eliminatória uma exposição de carne que deixa até a produção do programa impressionada. Confira na câmera, e só lamente do que os atores de peça Pacto Erótico, em cartaz no sombrio Teatro das Nações, não tenham chegado a tempo para o número filial de Strip-tease. Melhor é ficar com a imitação de Dom Paulo Evaristo Arns, por Tatá e Escova, quando o cardeal conta que recebeu uma confissão que não entendia bem: "Padre, faz um ano eu comunguei".
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