sexta-feira, 29 de junho de 2007

1989
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BORIS CASOY
UM HOMEM-ÂNCORA DE OPINIÃO

Artigo escrito por Humberto Werneck, publicado pelo Jornal do Brasil (1989).

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Boris Casoy, o 'anchorman'
do TJ Brasil, não se limita a comentar as notícias, faz observações e demonstra a sua indignação SÃO PAULO - Habituado a consumir informativos onde os apresentadores em geral se limitam a ler, assepticamente, as notícias, sem comentá-las, o telespectador brasileiro tem agora uma novidade em seu seletor de canais. Seu nome é Boris Casoy. Trata-se, para começar, de um jornalista, algo raro numa paisagem dominada por enfarpelados locutores. Por isso mesmo ele não está ali, diante das câmeras do SBT, de segunda a sábado, às 19h10, no comando do TJ Brasil, meramente para apresentar notícias, e sim para desempenhar tarefa mais complexa, de sólida tradição nos Estados Unidos, mas virtualmente inédita por aqui: a de anchorman, "homem-âncora", ao qual incumbe ligar os diversos assuntos tratados num telejornal, fazer entrevistas e produzir comentários abertamente opinativos. Um Cid Moreira com redação própria, enfim. Conhecido jornalista da imprensa escrita, com destacada passagem pela direção da Folha de S.Paulo, Boris Casoy chegou à televisão um tanto tardiamente (está com 47 anos), no final de agosto passado - e logo pôs no ar um estilo personalíssimo, dentro do qual parece mover-se com desenvoltura cada vez maior. Ultimamente, além de ler comentários que ele mesmo escreve, Casoy tem deslanchado em improvisos. O tom, freqüentemente, é de indignação cívica e insiste em duas teclas: a defesa da democracia e a restauração da moralidade no país. Foi assim, por exemplo, no caso do generoso aumento de salário que os deputados federais se concederam no final do ano, ou no episódio do Bateau Mouche. Quando, recentemente, o ex-ministro Aluísio Alves embarcou 39 parentes e amigos num indecoroso "trem da alegria", às vésperas de 'trocar a ejetável pasta da Administração por uma confortável cadeira no Superior Tribunal Militar (onde ainda não conseguiu aboletar-se, devido a resistências a seu nome), Boris Casoy explodiu: "Se eu fosse o Sarney, não nomearia jamais esse homem para o STM".Ele jura que o Boris da televisão não é uma personagem, e que nada há de premeditado na sua indignação. "São impulsos que fazem parte da minha loucura", explica. "Sou uma metralhadora giratória, e geralmente não avalio os efeitos". No começo, ele conta, seus repentes causavam preocupação na cúpula do jornalismo do SBT. Pediam-lhe que tomasse cuidado, que não improvisasse, que não quebrasse a fórmula do programa. "Agora", diz Casoy, "tenho sido até incentivado a fazer mais comentários". Na rua, tem sido abordado por telespectadores que o cumprimentam e lhe sugerem que critique Isso ou aquilo.Casoy atribui essa empatia ao fato de estar sendo uma espécie de "intérprete da rua". De seu remoto curso de Direito ele exuma a expressão latina erga omnes - "que alcança a todos" para dimensionar o alcance de suas intervenções televisivas. Rotulado por seus desafetos como um homem de direita, por haver apoiado o golpe de 64 ("e apoiaria de novo", ele rebate, "pois a liberdade estava em risco"), afirma que não é conservador. Define-se como liberal e acha que exatamente por isso tem as mãos livres "para fazer coisas que a esquerda não teria condições de fazer".Por exemplo, criar uma situação embaraçosa para o senador Fernando Henrique Cardoso, então candidato à prefeitura de São Paulo, em 1985, ao lhe perguntar, num debate de televisão, se acreditava em Deus. O senador se enrolou todo - e há quem diga que foi nessa noite que perdeu a eleição para Jânio Quadros. Há poucos dias, Casoy não hesitou em alimentar a cizânia no PT ao conseguir que Lula criticasse a prefeita Luiza Erundina por haver nomeado um sobrinho e aumentado as passagens de ônibus. "Eu apenas fiz ao Lula a pergunta que estava na boca do povo", comenta. "E avisei a ele, antes do programa, que ia entrar nesse assunto, como aliás sempre faço com os meus entrevistados".Sérgio Motta Mello, experimentado homem de televisão foi repórter da Rede Globo durante doze anos, oito deles nos Estados Unidos, e hoje é dono de uma produtora independente em São Paulo, a TV 1 - acredita que Boris Casoy tem pelo menos uma das qualidades indispensáveis a um anchorman: a credibilidade. Mas acha que o seu estilo opinativo não corresponde exatamente à receita dos grandes anchors americanos, como o legendário Walter Cronkite, da rede CBS, ou Dan Rather, que o substituiu alguns anos atrás. "O estilo de Boris Casoy se parece mais com o que se vê nos jornais locais", diz Sérgio Motta Mello. "Os jornais nacionais, nos Estados Unidos, não têm muito comentário".O produtor paulista, sente que o apresentador do SBT ainda não está muito à vontade - "ele ainda não conseguiu se descontrair, conversar com a câmera". É o que pensa, também, o crítico de televisão Décio Pignatari. "O Boris ainda não se arrisca muito", diz Pignatari, avançando uma explicação: "É que ele está na jogada presidencial do Sílvio Santos", afirma. "Aliás, para isso é que foi para a emissora". O anchorman do SBT reage com veemência. "Isso não é verdade, não tem pé nem cabeça", defende-se. "Não quero servir a jogadas presidenciais de ninguém. A direção da casa não me pressiona e já senti que estou à vontade para criticar até mesmo os posicionamentos de Sílvio Santos, se for o caso."

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