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SEM CENSURA
UM FORMATO VITORIOSO
Texto de Paulo Ricardo Moreira, publicado pelo jornal O Globo (31/07/2005)
Só a jornalista Leda Nagle está no comando do programa de entrevistas há dez anos.
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— O programa é vitorioso pelo formato, porque reúne vários assuntos. Vai da economia doméstica à economia formal, da cultura ao consumo, da moda ao comportamento. Nossa pauta não é factual — diz a jornalista.
Quando assumiu a apresentação, Leda Nagle achava que o “Sem censura” tinha uma cara muito carioca. Até porque a maioria dos convidados (principalmente artistas) morava no Rio. Na sua gestão, ela acredita ter dado ao programa um perfil nacional.
.— Introduzi o esporte. Falamos sobre o vôlei numa época em que ele não era tão popular como hoje — conta.
.A TV Cultura, de São Paulo, não retransmite o “Sem censura” para a capital, mas outras cidades do estado o fazem. Nas redes públicas do país, ele só não é visto no Acre. Em Minas Gerais, quando a Rede Minas mudou o programa de horário, exibindo-o de madrugada, o público protestou e avisou à jornalista.
.— Os telespectadores são meus cúmplices — diz.
.Outro aliado do programa é a tecnologia. Se antes da chegada de Leda só havia o telefone como meio de comunicação, hoje a participação do telespectador é feita também por fax e e-mail.
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— As pessoas ficam orgulhosas de participar. Acho que permiti que elas se sentissem meio donas do programa.
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Graças à interatividade crescente, Leda recebe muita sugestão de pauta. Fãs do programa não se cansam de pedir, por exemplo, que Leda entreviste seu filho, o ator Duda Nagle, o Radar da novela “América”. Por enquanto, ela não vai ceder à pressão.
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— Adoro pauta. Se for boa, estou dentro! Checo todas as mensagens que chegam — afirma. O importante é fazer um programa plural, com opiniões diferentes.
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Durante as entrevistas, Leda também costuma ler mensagens destinadas aos convidados. Alguns são bombardeados por críticas. Um médico foi acusado de ter matado um paciente e um advogado foi massacrado por defender a tese de que ninguém deve ser preso. Nesses casos, a jornalista prefere não falar nada na hora e só entregar o fax ou e-mail no fim do programa.
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— Não sei como o entrevistado dorme depois disso — comenta ela. Mas tem médico que ganha mais cantada do que famosos.
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Artistas recebem sempre muitas mensagens. O padre Marcelo Rossi, o cantor Daniel e jogadores de futebol também fazem sucesso. Os colares, brincos e pulseiras que Leda usa no programa também chamam a atenção do público. Tanto que mês que vem ela vai lançar uma linha de bijuterias. A jornalista, que é mineira, também vai escrever um almanaque com dicas e o livro “Conversa de mineiro”, coletânea de entrevistas com personalidades. Outro projeto é a formatação de um programa sobre qualidade de vida para TV paga.
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CONCORRÊNCIA COM A CPI - Leda Nagle gostaria que o “Sem censura” fosse reprisado todo dia de madrugada, para quem não pode vê-lo à tarde. Segundo ela, a audiência gira em torno dos 3 pontos de média. Mas a emissora pública não costuma controlar os índices nem encomendar pesquisas ao Ibope.
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— Dizer que eu não me importo não é verdade. Quero que ele seja visto. Só não busco isso a qualquer preço, porque tenho um nome a zelar. Luto pelo melhor sempre — diz ela.
Na contramão dos fatos, a jornalista conta que optou, sim, por não falar da crise política:
— Não dá para disputar com a CPI, que agora é minha concorrente. Nossa linha nunca foi política.
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Outros nove apresentadores passaram pelo comando do “Sem censura” nesses 20 anos. Entre eles, Lúcia Leme, que hoje apresenta o “Olhar 2005” na mesma emissora, e Márcia Peltier. A primeira apresentadora foi Gilsse Campos. Feita as contas, o programa teve mais de seis mil edições ou mais de 12 mil horas de exibição — já que tem duas horas de duração, sempre ao vivo, de segunda a sexta-feira.
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EM TEMPO
O programa "Sem Censura", três anos depois dessa reportagem, continua no ar nas tardes da TVE.
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