quarta-feira, 20 de maio de 2009

1983

ESTRELAS


YARA CORTES


'CHEGOU A HORA DE UM NOVO DESAFIO'

Abrir o baú das recordações, folhear um amarelado álbum de antigas fotografias. É o que ela acredita ter feito há sete anos, quando gravou "O casarão". Através de seu trabalho, centenas de pessoas tiveram a mesma sensação. Revendo-o, a atriz se sente estimulada. Não crê que hoje voltasse a viver Carolina com a mesma naturalidade, mas espera ter chances de interpretar outra personagem com uma história densa e cheia de emoções.

Ao lado de Maria Lícia, sua amiga há 30 anos e a quem considera uma irmã, Yara Cortes tem acompanhado os capítulos da novela com grande emoção. Com a reprise de "O casarão", a atriz espera que surja uma nova oportunidade de desempenhar um papel não só bom, mas também desafiador:

- Há quatro anos que sou a delegada de Sucupira em "O bem amado". Está na hora de voltar a me solicitar como atriz. Talvez revendo "O casarão'', as pessoas se lembrem de que sou capaz de fazer momentos muito bonitos. Gosto da Chica Bandeira, o clima das gravações do seriado é o melhor passível. Mas quero me exercitar mais, reviver emoções, ter uma nova história. A reapresentação dessa novela me devolveu a esperança de, novamente, me sentir mobilizada e desafiada em minha profissão. Em 76, Yara diz ter feito, uma surpreendente descoberta: existem mais Carolinas no mundo do que pode supor nossa vã filosofia. Pelo menos, era imensa a quantidade de cartas escritas com caligrafias redondas e caprichadas ''típicas de meninas que foram educadas em colégios conservadores" - que ela recebia mensalmente: - Todas contando a mesma história, de um amor frustrado que o tempo não fez esquecer, de um casamento sólido mas cheio de desamor, da felicidade que passou a residir apenas nas velhas recordações. Eu, pessoalmente, jamais teria feito uma coisa dessas. Mas, pelo visto, muita gente fez e "O casarão" reavivou estas antigas feridas. Hoje, Yara não sabe se conseguiria refazer este bom momento de sua carreira com tanta tranqüilidade, Os quilos a mais que adquiriu com o tempo talvez a tornas sem mais tímida para incorporar a musa de um sentimento tão intenso Quanto ao de João Maciel. A idade? Esta não pesa. Acredita que o amor, sobrevive em qualquer época da vida e que a maturidade não é o limite para romance algum:

- Como estou muito mais gorda agora, talvez não tivesse naturalidade para viver a Carolina. O excesso de peso me incomoda e intimida. Existe uma propaganda tão forte contra a gordura que nós, que possuímos uns quilos a mais, acabamos nos sentindo discriminados e nos colocamos, por um profundo sentimento de culpa, Quase à margem da vida. Mas, na época das gravações, Yara entrou de cabeça na emoção da personagem. Para elegantes de mais nada, Carolina foi um desafio. Quieta, triste, introvertida, era o oposto da atriz, que precisava estar sempre atenta para não libertar seu lado expansivo e toda a sua natural energia. No entanto, há um lado em que as duas se identificam: ambas acreditam na delicadeza do amor Yara conta que, durante toda a sua vida, sua vaidade foi para consumo interno, E uma mulher que crê na importância de se arrumar para quem se ama, de valorizar a sofisticação no dia-a-dia, de enfeitar os atos mais simples com flores, cores e fitas:

- Meu mundo sempre foi dentro de casa. E, quando amei, reservei o que tinha de melhor para minha intimidade. Minhas roupas caseiras sempre foram mais enfeitadas do que às que eu usava na rua. Arrumava a mesa com pratas e cristais, valorizava meu cotidiano. Acho que esta sempre foi a minha vaidade, porque ali, no meu mundo particular, me esperava o bem precioso: o amor.

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Fonte: O Globo (1983)
Foto: Dramaturgia Brasileira
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