sábado, 29 de agosto de 2009

Helenas que amamos sermos cúmplices.

por: Paulo Ricardo Diniz


Helena. Para o novelista Manoel Carlos este é um nome que remete a mulher forte. Não à toa que esta virou uma das marcas do autor. As protagonistas de suas novelas levam sempre este nome, exceto em seus primeiros trabalhos na Rede Globo: “Maria Maria” (1978), “A Sucessora” (1979) e “Sol de Verão” (1982). Entre as duas últimas, surge a primeira Helena, vivida por Lílian Lemmertz, em “Baila Comigo”, de 1981. Trama cuja personagem tem dois filhos gêmeos, que desconhecem a existência um do outro.

Mentiras, segredos, erros, características bem comuns às heroínas de Maneco [como o autor é conhecido], o que as aproxima das mulheres da vida real. São humanas. Amam, erram. Casam, descasam. ‘Batem boca’, dão tapas. São amigas, são egoístas. Renunciam, defendem seus filhos. Agem com razão e emoção. ‘Metem os pés pelas mãos’.

Além de Lílian, deram vida a essas mulheres Maitê Proença, Regina Duarte (esta por três vezes), Vera Fischer, Christiane Torloni e a próxima será Taís Araujo.

Maitê Proença foi a protagonista do folhetim “Felicidade”, de 1991, que marcou a volta de Manoel Carlos à Globo. A mentira rege a história. Na novela, Helena esconde de Álvaro (Tony Ramos) que ele é pai de sua filha, Bia (Tatiane Goulart). O rapaz está prestes a se casar com Débora (Vivianne Pasmanter), então Helena resolve assumir sozinha a maternidade. Anos mais tarde, Helena vai trabalhar para a mãe de Álvaro. E uma forte amizade une Bia ao filho de Álvaro com Débora, sem saberem que são irmãos.

A primeira Helena de Regina Duarte, em “História de Amor”, de 1995, talvez seja a que mais se aproxima da mulher brasileira. Vai à feira, discute o preço do tomate no elevador, trabalha, anda de carro velho, é amiga da vizinha da mulher do ex-marido, conversa de igual para igual com o porteiro, briga na rua, briga com a filha e a acoberta também. Descobre o amor de sua vida e luta por ele. E claro, guarda um segredo, revelado apenas no final: a filha que ela criou com tanto amor, é na verdade sua sobrinha.

Dois anos depois, em 1997, Regina viveu sua segunda Helena. Para esta, o mundo tem apenas um nome, o de sua filha, Maria Eduarda (interpretada por Gabriela Duarte, filha da atriz). “Por Amor” e em segredo, Helena troca seu filho vivo pelo bebê morto de Eduarda, visto que a garota não poderá mais ter filhos. O amor materno fala mais alto, sem medir as conseqüências. A atitude pode ser considerada relativamente egoísta. Helena deixa para Atílio (Antonio Fagundes), o pai da criança, sentir a dor da perda de um filho. “Como você pode achar que o seu amor pela sua filha fosse maior do que o meu amor pelo meu filho?” – questiona ele, no momento da revelação. Com isso, Helena também subestima a força que a filha pode ter para enfrentar a dor.

Heróico foi o ato da Helena de “Laços de Família”, em 2000, desta vez vivida por Vera Fischer. Uma mulher que renuncia a própria felicidade por amor a filha. Diante da doença de Camila (Carolina Dieckmann), que sofre de leucemia, Helena traz à tona a verdadeira paternidade da garota. E engravida novamente para salvar sua vida. Bem antes disso, a mãe abre mão do namorado Edu (Reinaldo Gianecchini) para que o rapaz possa namorar Camila. Esta foi a Helena que mais renunciou em favor de uma filha.

Até hoje criticada e considerada como a protagonista mais apagada de Manoel Carlos, Christiane Torloni foi a Helena da vez na crônica do cotidiano “Mulheres Apaixonadas”, em 2003. Infeliz com o casamento morno, ela resolve se separar de Théo (Tony Ramos) para buscar a felicidade. E reencontra o seu amor da juventude, o médico César (José Mayer), agora namorado de sua enteada, Luciana (Camila Pitanga). Paralelo a esse romance secreto, Helena é a pessoa mais solicitada para ouvir e ajudar a resolver os problemas dos outros. Heloísa (Giulia Gam), Hilda (Maria Padilha), Raquel (Helena Ranaldi), Santana (Vera Holtz) eram as que mais sentavam no “divã” da professora Helena.

Em 2006, em “Páginas da Vida”, Regina Duarte é pela terceira vez protagonista de Maneco, vivendo uma médica obstetra apaixonada pelo seu trabalho. E desta forma ela faz o parto de emergência de Nanda (Fernanda Vasconcellos), uma jovem que dá a luz a um casal de gêmeos, Clara e Francisco, e depois morre. Clara, portadora de síndrome de down, é rejeitada pela avó Marta (Lilia Cabral) que cria apenas Francisco. Temendo o futuro daquela garotinha, Helena a dá como morta perante a família, mas a adota e a cria com muito amor. O difícil é esconder dos avós e do pai das crianças, depois de tantos anos, que a menina sobreviveu.

Histórias que podem ser até parecidas, mas contadas de forma diferente. Cada uma delas é única. É por isso que este é um papel tão bem selecionado pelo autor. Cabe agora, em 2009, a Taís Araújo engrossar o time destas mulheres fortes. Será a primeira negra e a com menos idade entre delas – até então, era Maitê Proença, com os seus 33 anos. As outras estavam na faixa dos quarenta. A Helena de Taís, em “Viver a Vida”, será uma ex-modelo e se envolverá com um homem mais velho, tendo dificuldades com a filha dele que tem a mesma idade dela. Fica a responsabilidade para a jovem atriz.

Mãe, mulher, amiga, amante... Médica, professora, esteticista, decoradora, corretora, modelo... Trintonas, quarentonas, cinquentonas... Entre verdades e mentiras, razões e culpas, estão elas. Helenas. Guerreiras Helenas. De alguma forma o público se identifica, as vê como alguém próximo, como a mãe, a tia, a irmã, a vizinha... Fica no ar a sensação de que as conhecemos, e com isso, nos tornamos cúmplices delas. Em tempos de mocinhas politicamente corretas, que beiram a chatice e ficam chorando pelos cantos, Maneco acerta a mão com suas heroínas que retratam quase que fielmente a mulher brasileira. Choram sim, mas também lutam, enfrentam... Acertando ou errando, elas agem por amor e pelo amor, em busca da felicidade suas ou de seus filhos.
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Um comentário:

Duh Secco disse...

De todas, fico com duas: Regina Duarte em História de Amor, por ser a mais próxima da realidade; e Lílian Lemmertz, com um texto irretocável. São dela os melhores momentos de Baila Comigo.