JORGE BOTELHO - Memórias do ator (Parte 1)
Eis a primeira parte das memórias de Jorge Botelho, contadas de forma bem humorada, escritas pelo próprio ator.
O BEM-AMADO (1973)
Acho que foi a novela que mais prazer me deu de participar, pelo elenco, pela equipe técnica, direção do Régis, pelo texto. Não havia erro, talvez isso explique o sucesso enorme que fez. Na época eu participava de uma peça chamada "Liberdade para as Borboletas", e fazia um hippie bem maluco, eu improvisava muito e tirava muitas gargalhadas do público. Quando surgiu o personagem na novela, era apenas para 5 capítulos. Edson Húngaro, que trabalhava na produção, tinha assistido a peça e me indicou, logo em seguida fui indicado também pelo Paulo Gracindo, com quem tinha trabalhado noutra peça. Gracindo alertou o Dias Gomes para prestar a atenção no meu desempenho, e o Dias escreveu para o Nadinho, meu personagem, até o final, só não pode ser melhor porque a Dilma Lóes, que fazia Anita Medrado, se desentendeu com a Globo e foi afastada da novela. Ela me hipnotizava com a beleza dela.
Me considero abençoado por ter convivido com aquelas pessoas naquela época, pessoas de uma dimensão e qualidade humanas incomparáveis tais como Gracindo, Lima Duarte, Jardel Filho, Eliezer Mota, Sandra Bréa, até hoje a considero a maior e melhor cozinheira que já conheci. Todos eram incríveis, todos não, digamos 90%, vamos deixar uns 10% para alguns não tão bons que nem merecem ser mencionados e que milagrosamente esqueci.
Nessa novela trabalhavam dois colegas de escola de teatro, eram Augusto Olimpio, o cabo Ananias e o Jorge Candido, o porteiro do hotel. Eram dois irmãos para mim. Jorge morreu no ano seguinte, aos 36 anos, de derrame cerebral e o Augusto em 89, de câncer no pulmão, tinha 49 anos. Foi aí que parei de fumar.
Outros dois colegas de escola de teatro são Pedro Paulo Rangel e Marco Nanini.
FEIJÃO MARAVILHA (1979)
É a novela que me deu mais raiva! Não de fazer, mas de mim mesmo. Já trabalhava como assistente de direção de "A Sucessora" ou "Memórias de Amor", e só corria para gravar minha pequena parte e sumia do set. Anos depois descobri que nela trabalhavam algumas pessoas que eu daria tudo para conhecer pessoalmente, como Eliana Macedo, Cauê Filho, acho que tinha até o José de Arimathea lá. Doeu no coração ter perdido essa oportunidade.
Alguns anos depois voltei a São Paulo, mas agora guardei dinheiro para comer, mas não tinha onde dormir, quem me ajudou foi o Pedro Paulo Rangel. Era inverno e fui dormir na oficina de artesanato de um amigo dele. Dormi numa poltrona, o frio me acordou logo de manhã, saí, peguei um ônibus e no calorzinho do ônibus dormi até o ponto final, fui acordado e desci desorientado e perdido na cidade de São Paulo. Como vê, moro aqui por pura teimosia.
Voltando à vaca fria, ver aqueles artistas e outro que não citei mudando-se para as vizinhanças da Rua da Amargura, mexeu com os meus nervos.
por Jorge Botelho
(continua ...)
2 comentários:
Muito bom!
Ator naquela época passava o maior trabalho, fome mesmo. Bem diferente de hoje em dia. Por isso que hoje tem muito mais glamour do que gente talentosa na TV. Qualquer um pode ser ator, é fácil demais.
"Dividir a barra em três deu certo trabalho, o duro mesmo foi dividir o celofane para lamber."
A coisa tava feia mesmo hein? rs
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