quinta-feira, 21 de julho de 2011

MEMÓRIAS DE JORGE BOTELHO - Parte 3




OS OSSOS DO BARÃO (1973)



É a novela que me deu mais sonhos e decepção. A novela iria ser dirigida pelo excelente Regis Cardoso, com quem havia trabalhado no Bem Amado. Ele tinha gostado do meu trabalho no personagem Nadinho naquela novela, e me chamou para um teste de fotografia com a Dina Sfat. Até aquele momento tinha uma enorme admiração por ela, e a possibilidade de contracenar com aquela diva, naquele momento, me encheu de orgulho. Mais tarde fui aprender que lidar com Dina Sfat não era para amadores ou novatos como eu era.


As cenas iniciais seriam gravadas em São Paulo, no Largo do Arouche. Fiquei instalado num hotel da Av. Ipiranga em excelente companhia, José Wilker. O Wilker é uma pessoa simples, extremamente simpático, sem nenhuma empáfia e muito seguro de si. Todos os dias em que ali ficamos, ele me convidava para sair. Acho que chovia tanta mulher na horta dele, que ele precisava de ajuda. Nunca pude sair para a farra com ele, lamento até hoje. Nunca pude dizer para ele que minha grana estava tão curta que não dava para alçar grandes vôos.


O Wilker é um homem alto. É provável que tenha 1,80m de altura ou mais, e eu tenho 1,76m. Logo que cheguei, a camareira me advertiu que a Dina havia comprado sapatos para ficar com a mesma altura do Wilker. Fiquei surpreso com a novidade, isso significava que ela iria ficar mais alta que eu, e o interessante é que ela sabia disso porque ficamos lado a lado para as fotos de teste. Eu iria representar o noivo que seria abandonado por ela, trocado pelo Wilker. Foi nesse momento que comecei a descer os degraus para a realidade.


Para piorar minha situação, numa tarde, na praça da República, o autor da novela, Jorge Andrade, que escrevia sua primeira novela, em conversa com alguns membros do elenco, revelou suas dúvidas, a sua insegurança de tocar um empreendimento daquele porte, e eu, um belo idiota que era (ou ainda sou), com uma língua maior que a boca, ao invés de ouvir calado, sugeri que ele se aconselhasse com o Dias Gomes. Ele me olhou com um olhar vazio, como se eu não tivesse dito aquilo, e o meu personagem que já não era grande coisa passou a não ser coisa nenhuma. A história que me contaram era que o Jorge Andrade, por inexperiência, havia criado mais cenários do que suportavam os estúdios, e os meus cenários haviam sido cortados. Dali para frente eu só teria externas e, para minha infelicidade com a Dina. As externas eram gravadas com uma câmera apenas, como meu personagem havia sido devidamente desidratado, close mesmo era só para a Dina, e quando éramos só nós dois dentro do mesmo enquadramento, a Dina ao mesmo tempo que falava, girava sobre seu eixo, de forma que ela ficava de frente para a câmera e eu, tendo que falar na sua direção, me obrigava a girar também ficando de costas para o espectador.


Meu "grand finale" seria meu suicídio. Tinham me dito que teria uma cena espetacular de suicídio. Não tive suicídio nenhum. Ele virou apenas uma narração na boca de algum personagem. Morri em off!


O pitoresco era que, algumas vezes, o Chico Anísio aparecia no set de gravação para brincar com o Paulo Gracindo. Ele perguntava pela saúde do Paulo, sugerindo que ele talvez precisasse de um substituto, e dizia que se precisassem de um velhinho com a mão trêmula, ele sabia fazer, e então ele improvisava as falas do Paulo, fazendo uma cômica imitação dele. Talvez o velho Popo tenha vindo daí.




(continua ...)







Um comentário:

Fábio Costa disse...

Muito interessantes as memórias de Jorge Botelho, em especial por serem relativas a Os Ossos do Barão, uma das muitas novelas que infelizmente não se pode mais ver por ter sido perdida em incêndio.