sábado, 30 de julho de 2011


MEMÓRIAS DE JORGE BOTELHO - Parte 4




 SÍTIO DO PICAPAU AMARELO e ESPELHO MÁGICO  (1977)


Antes de participar do Espelho Mágico, eu tinha sido contrato para fazer um galãzinho na primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo. Era uma complicada história de selos postais. Era muito bom o clima das gravações dirigidas por Geraldo Casé e Reinaldo Boury. Gravávamos muitas vezes no antigo estúdio da Atlântida, em Jacarepaguá. A alimentação era precária, mas o Casé, que entendia profundamente de culinária, ficava descrevendo os pratos mais fantásticos da culinária francesa, então, enquanto ele explicava como se preparar um pato faisandé, eu traçava um prato de arroz, alface e um ovo frito nadando em óleo sem nem notar.


Subitamente todo o núcleo do Pica-Pau foi remodelado e fiquei sobrando, foi aí que recebi o convite para participar do Espelho Mágico. É impressionante o elenco do Espelho Mágico, acho que foi a maior reunião de pesos pesados que já vi: Tarcísio Meira, Glória Menezes, Juca de Oliveira, Daniel Filho, Sônia Braga, Yoná Magalhães, Lima Duarte, Sérgio Britto, Vera Fischer, Tony Ramos, e muitos outros, inclusive eu. Guardo as melhores recordações do Tony Ramos, que tinha acabado de se mudar para o Rio, e que sofria muito com o calor da cidade. Pessoalmente ele é muito engraçado, tem um senso de humor apuradíssimo. Outra pessoa adorável era a Sônia Braga, uma pessoa de uma simplicidade inacreditável. Era um símbolo sexual naquele momento, capa da Playboy, e não estava nem aí para isso. Ela tinha a capacidade de jogar uma bata hippie em cima do corpo, calçar um chinelinho baixo, desgrenhar os cabelos e sair pelas ruas sem ser reconhecida nem importunada. E ainda tinha o Lima Duarte, o bom e velho professor que sabia tudo de TV e sempre que podia dava umas dicas para melhorar nosso trabalho. Aprendi algumas coisas muito boas com ele, não que ele falasse diretamente a mim, e sim à Sonia Braga, e eu que ficava no gargarejo aproveitava as lições. Como era difícil tirar os olhos da Sonia Braga, pude absorver indiretamente algumas boas dicas do Lima Duarte.


O final do meu personagem na novela, Eduardo, me revelou outra boa lição. Eu, Eduardo, enfrentava o personagem do Tarcísio, Diogo Maia/Ciro, num duelo à bala numa suposta ilha. Durante a gravação, o Tarcísio gentilmente foi marcar a posição dele para onde eu deveria atirar, uma vez que na ação da cena eu tinha que me atirar no chão, me virar rapidamente e atirar. Quando fui gravar, segui o que foi determinado. Logo que ouvi a voz dele, me atirei no chão girando na direção da voz e atirando, apesar da enorme distância, qualquer coisa em torno de 30m ou mais, acidentalmente um resíduo de pólvora da minha arma acabou atingindo o pescoço do Tarcísio, queimando-o. A cena teve que ser regravada e o Tarcísio, agora mais esperto, tinha sumido. Na cena os dois personagens se ferem mortalmente, enquanto o meu morreu em pouco mais de 12 segundos, ali solitário na areia da praia, o dele agonizou por 3 capítulos cercado por todo mundo.
 
 
(continua ...)
 
 

Um comentário:

Juliano G. Bonatto disse...

Tô adorando esses depoimentos do Jorge nessas novelas antigas. Sem dúvida, um importante registro de alguém que presenciou tudo! Quando vem o próximo?