sábado, 22 de outubro de 2011

MEMÓRIAS DE JORGE BOTELHO - Parte 8






SINAL DE ALERTA (1978)

A novela Sinal de Alerta não agradou o público. A audiência era baixa e quase não me lembro do que fazia na história. Pouco depois desta época, fazia uma peça de teatro, e na porta do meu camarim, um dia, apareceu o Dias Gomes, e ele se desculpou pelo meu personagem na novela. Ele disse que tinha errado a mão. Dias Gomes fazia dessas coisas.


Outra coisa que me lembro é que o Paulo Gracindo gostava muito de um bolinho de bacalhau de um determinado bar em Copacabana, mas não gostava de ir lá sozinho. Algumas vezes fomos só ele e eu e outras ia também o Gracindo Jr e uma ou outra pessoa amiga. O bolinho de fato era sensacional, com um chope geladinho era uma maravilha.


O Paulo tinha fama de assistir a todos os capítulos da novela. Um dia fomos fazer uma externa numa boate do Leblon. Gravamos uma cena e fomos para o banheiro da boate trocar de roupa. Era de tarde e a boate estava fechada para que pudéssemos tocar a gravação. Sabendo que o Paulo assistia a tudo, tive a infeliz idéia de arrancar dele um comentário sobre o meu desempenho como ator naquela novela. Então falei:


- Estou me sentindo muito mal nesse personagem.


O Paulo não falou nada, ou melhor, emitiu apenas um grunhido "hummm!". Então prossegui:

- Acho que nunca me senti tão mal numa novela.

Ele continuou mudo. Nenhuma palavra de apoio, nada. Apenas ouvi o grunhido "hummm!". Nesse momento decidi partir para o tudo ou nada:

- Sabe Paulo, nunca me senti tão canastrão assim na minha vida.


Aí o Paulo voltou à vida e me respondeu:

- Bobagem, Botelho. Não seja modesto!!




Em 1980, fazia a peça "À Direita do Presidente", com Araci Balabanian, Gracindo Jr e André Villon, e numa determinada noite, Gracindo, que era como um irmão mais velho para mim, me trouxe a notícia:

- Olhe, aquele concurso que você queria fazer, voltou!


O concurso a que ele se referia era o de Fiscal de Imposto de Renda, que eu já havia comentado com ele anos antes, mas que havia depois desistido. Então pensei: porque não? Na seqüência do curso de jornalismo tinha também feito direito e sempre tive um bom desempenho com matemática. Não perdia muito em tentar a sorte.


Foi bem interessante. Eram 108 mil candidatos para 500 vagas. Quando fui fazer as provas, fui muito reconhecido e pouco levado a sério. Percebi que falavam de mim a minha passagem.


As pessoas não se dão conta que no meio artístico tem muito glamour e que frequentemente ofusca as muitas dificuldades. Vi vários colegas passarem muitas dificuldades, como por exemplo, a gloriosa Eliana Macedo, Yara Cortes e muitas outras e outros.

Existe um número muito grande de artistas que são sócios de restaurantes, ou tem fazendas de gado, como por exemplo Tarcisio ou Juca de Oliveira, ou haras como o Lima Duarte, ou pousadas e hotéis, e por aí vai. E eu, um pé rapado, navegava a milhas de distâncias dessas opções. Pensava em Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Guimarães Rosa, Manoel Bandeira. Como vê, pensava grande.


Fiz as provas e passei. Não me lembro direito. Eram quatro ou seis provas, 16 assuntos. Cada prova com a média de 8 horas de duração. Não me chamaram e segui trabalhando.


(continua)

3 comentários:

a reinação de lobato disse...

Olá, eu sou um fâ do Sitio do Picapau Amarelo e queria saber se você tem alguma reportagem sobre o programa que ainda não postou que esteja intereçado em trocar

Guilherme Staush disse...

Todas as reportagens que tenho são postadas no blog. Eu não costumo trocar material, apenas disponibilizar no meu blog.

Um abraço.

a reinação de lobato disse...

obrigado mesmo assim