domingo, 13 de novembro de 2011

MEMÓRIAS DE JORGE BOTELHO - Parte final
















Pouco depois fui fazer o filme com o Reginaldo, nesta época contei para ele uma história que tinha em mente. Ele gostou e me encomendou o roteiro. Era uma história para dois personagens, naturalmente ele e eu. Só tinha um problema, ele queria que eu a tratasse como drama e eu só via o lado patético e cômico da situação.

Tinha participado de uma peça chamada "E agora Hermínia?" com Sueli Franco e dirigida pela Bibi Ferreira, e quando terminou, a Bibi me chamou para participar da montagem de "Piaf". Foi durante os ensaios de Piaf que recebi o telegrama da Receita Federal me convocando para o treinamento. Esse treinamento que durava 5 meses era a segunda etapa do concurso, oito horas por dia de segunda a sexta e os sábados eram para as provas. Era bem duro, só mais tarde fui descobrir o quanto era duro. Qualquer candidato que não alcançasse nota sete podia ser eliminado sumariamente. Durante esse treinamento, acredito que devido a pressão, um candidato se suicidou e outro enlouqueceu. 


Mostrei o telegrama para a Bibi e o Flavio Rangel que dirigia a peça. Ambos insistiram muito comigo que eu deveria ir para esse treinamento e eu fui.

Como eu estava entre os 10 primeiros da minha turma de 1982, fui nomeado direto para São Paulo, evitando ir para as fronteiras, destino de todo novato. Na época estava muito apreensivo, mas Gracindo Jr me disse que de início eu iria estranhar, mas depois iria gostar muito de São Paulo. Me agarrei nessa frase do Gracindo, porque sentia muita depressão vivendo na feiúra das ruas do centro de São Paulo e tendo minha filha recém nascida no Rio. Tentei algumas vezes pedir transferência para o Rio, mas nunca consegui. Muitos anos depois me sopraram que era por causa do meu sogro, o falido empresário Assis Paim, do Grupo Coroa Brastel, que estava processando o governo, e não me queriam perto dele no Rio. Com a distância, eu e Frida só nos víamos nos fins de semana. Nosso relacionamento acabou, mas continuei viajando todos os fins de semana para ver minha filha. Sempre mandei dinheiro para minha filha, e até mesmo para o Assis Paim que morreu pobre, era um bom sujeito. 


Em 1985, o Walter Avancini me convidou para participar do seriado "Grande Sertão: Veredas", como assistente de direção, eu teria que ler o livro e remontar as batalhas dos jagunços encontrando os cenários e montando os efeitos especiais com a ajuda de dois técnicos em efeitos especiais. Éramos apenas três no meio do mato cheio de onças, jaguatiricas e muitas, mas põe muitas nisso, cobras. Cobras no chão e nas árvores. Como éramos apenas três, as onças não se acanhavam de se aproximar, então passamos a preparar bombas e, de tempos em tempos, jogávamos uma para afastar todo mundo, menos as merdas das cobras, que são surdas e de repente tinha uma jararaca ou coral passando a 30 cm dos seus pés.


No final de 1985 encontrei a felicidade da minha vida na pessoa da Emilia, aquela da foto (lá em uma das postagens feitas no início), namoramos até 89, quando casamos e estamos juntos desde então com nossos dois filhos.


Vinte anos depois terminei aquela história que contei para o Reginaldo, agora bem mais incrementada, e seria uma maravilha nas mãos de uma dupla como Bruno Mazzeo e Leandro Hassum, mas não os conheço pessoalmente. Talvez Daniel Filho, mas acho que ele nem vai se lembrar de mim. Gracindo, Reginaldo e Pedro Paulo Rangel leram o roteiro e gostaram. PP é de opinião que devo procurar as pessoas, não sei bem como fazer isso, por onde começar, mas tenho que achar. Estou me aposentando daqui a alguns dias, não sei o que vou fazer, talvez termine a peça de teatro que estava escrevendo ou vou simplesmente sentar no sofá da sala e assistir a televisão. Estou aberto para sugestões. 

Um grande abraço a todos.
Jorge Botelho


PS: Acho que foi a forceps que tirei isso tudo de dentro de mim, mas acho que foi produtivo por as ideias em ordem e em conseguir enxergar, eu mesmo, mais nitidamente a minha exata dimensão. 



O Memória da TV agradece muitíssimo ao ator Jorge Botelho por todas essas preciosidades  divididas em capítulos, nessas várias postagens. Valeu muito, Jorge! Te desejo bastante sucesso nos próximos projetos!


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Um comentário:

Juliano G. Bonatto disse...

Muito bons esses relatos do ator. Dados interessantes de uma época importante da TV.

Um abraço a todos.