terça-feira, 18 de setembro de 2007

MEMÓRIAS
JOGO DA VIDA


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Estou abrindo um espaço (bem particular) para compartilhar com os leitores do meu blog minhas lembranças sobre algumas novelas que considero as mais interessantes que assisti. Apesar de procurar escrever somente aquilo que tenho absoluta certeza, as informações contidas nesse texto são baseadas na minha memória televisiva, que pode ser passível de erros. Portanto, as informações presentes nesses textos não devem servir de fonte para pesquisadores da telenovela brasileira, que aliás, não é a proposta do blog, já que as informações postadas aqui são, na maioria, provenientes de reportagens publicadas em revistas, que embora sejam especializadas em televisão, não representam uma fonte de informação 100% segura.

Qualquer participação dos leitores do blog é bem-vinda, e pode ser feita através do link "comentários", visível na parte inferior desta postagem.
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A novela que escolhi para abrir essa nova seção do blog foi "Jogo da Vida", uma das melhores novelas de Sílvio de Abreu, na minha opinião.


Novela de Sílvio de Abreu
Argumento de Janete Clair
Direção geral de Roberto Talma
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Rede Globo -1981



GANHAR OU PERDER FAZ PARTE DO JOGO DA VIDA


"Jogo da Vida" foi uma novela leve, divertida e audaciosa. Com um enredo muito bem costurado, foi uma trama repleta de personagens ricos e todos muito divertidos. Sílvio de Abreu soube alternar drama e humor como raras vezes foi visto em uma produção das 19h.


A novela teve como personagem central Jordana (Glória Meneses), que depois de muitos anos casada com Silas (Paulo Goulart), é trocada pelo empresário por uma mulher bem mais jovem, a ambiciosa Carla, mal defendida por uma Maitê Proença pouco experiente.

A novela foi meio dramática no início, por opção do próprio autor, que havia planejado explorar o drama vivido pelos personagens inicialmente, a fim de apresentá-los ao telespectador, desenhando o perfil de cada um deles, para depois imprimir a marca que o tornou famoso nas telenovelas: a comédia.

O drama nasceu não só em virtude dos conflitos vividos por Jordana por causa de sua crise conjugal com o marido, mas também por conta da figura de Dona Mena, uma simpática velhinha que acaba conquistando de Jordana todo o carinho que não teve de seus sobrinhos, que sempre a rejeitaram. Mal sabia Jordana que a tal velhinha , ao morrer, lhe deixaria uma grande fortuna escondida dentro de um cupido, e ainda um velho casarão abandonado, que futuramente seria transformado em um pensionato para garotas, onde ocorreria grande parte da ação da novela.

É justamente quando a maioria dos personagens da novela descobre a existência de uma grande fortuna (um milhão de dólares) deixada no interior de um dos cupidos que a novela toma fôlego e se transforma em uma deliciosa comédia, não faltando as típicas seqüências de ação em que o elenco todo parte "em busca do ouro".

O autor Sílvio de Abreu, antes de fazer televisão, fez várias incursões pelo cinema, trabalhando como roteirista, ator e diretor. Dirgiu algumas pornochanchadas ("Elas são do Baralho", "A Árvore dos Sexos"), e é evidente a inserção de vários elementos desse gênero cinematográfico em suas telenovelas. Na recente "Belíssima", por exemplo, o personagem Narciso, vivido por Vladimir Brichta, parece ter saído do elenco das deliciosas comédias eróticas que fizeram tanto sucesso nos anos 70. O personagem tinha todas as características dos galãs das pornochanchadas: bonito, vaidoso, desajeitado, ingênuo e metido a conquistador. Todas as situações vividas por ele na novela remetiam aos clichês explorados nessas produções cinematográficas: a fuga pelas ruas de São Paulo vestindo apenas trajes íntimos quando foi flagrado por um marido traído; a exploração dos atributos físicos do rapaz por uma mulher mais esperta que o fez posar nu para o anúncio de um produto; os freqüentes cuidados da mãe que contribuiram para o excesso de vaidade do rapaz, e ainda o velho clichê das pornochanchadas: o galã teve que se fingir de gay para não ser atacado por uma madame durante as sessões de massagem. Isso sem falar nas inúmeras encrencas em que o rapaz se meteu por causa de sua eterna fama de conquistador.

Mas em nenhuma de suas novelas Sílvio de Abreu usou tantos personagens e situações típicas das comédias eróticas dos anos 70 como em "Jogo da Vida", e várias delas faziam referência aos clássicos da pornochanchada, gênero que estava em alta no período em que a novela foi ao ar. Não faltou o galã de subúrbio que era o terror das empregadas domésticas (Mário Gomes); a empregadinha assanhada (Sônia Mamede); a professorinha sexy (Kate Lyra), objeto de desejo do adolescente (Ernesto Píccolo) que imaginava a professora quase nua em seus delírios, e ao encontrá-la, desmaiava, imaginando aquele monumento de mulher usando apenas calcinha e sutiã; a menina tímida (Cissa Guimarães) que vem de uma cidade do interior do Mato Grosso e fica horrizada com as atitudes liberais das garotas da cidade grande; a empregada safada (Elizângela) que enlouquece o patrão (Gracindo Junior) usando um uniforme cor-de-rosa bem curto para seduzí-lo (um dos truques da empregada era fingir que o pano de prato caía no chão, para então, abaixar-se suavemente para pegá-lo, ficando de costas para o patrão); e ainda o homem machista, na idade do lobo (Paulo Goulart), que troca a esposa quarentona (Glória Meneses) pela gatinha de 20 anos (Maitê Proença).

Tudo isso fez de "Jogo da Vida" um grande sucesso. É claro que a novela foi bem mais do que uma simples "pornochanchada bem comportada". Esses ingredientes todos, que apenas enfeitavam a trama, somaram-se à ótima sinopse escrita por Janete Clair, e não faltaram doses de drama, romance e aventura, nesse que foi um dos melhores trabalhos de Sílvio de Abreu, que dois anos depois escreveria um dos maiores sucessos da teledramaturgia: "Guerra dos Sexos", mas essa é outra história.



CENAS e COMENTÁRIOS

- No primeiro capítulo da novela, Jordana desce as escadas de sua casa e avisa ao marido, que está sentado em sua poltrona lendo o jornal, que vai fazer compras. O marido, sem tirar os olhos do jornal, laconicamente conversa com a mulher. Jordana fica indignada e logo inicia um discurso sobre a indiferença do marido nos últimos anos, que nem mesmo notou que a mulher estava indo fazer compras usando apenas um maiô!

- Renata Fronzi foi um grande destaque da novela fazendo a bandidona Aurélia Creonte, dona do cortiço onde Dona Mena morava. As cenas em que Aurélia maltratava Dona Mena eram muito comoventes ao mesmo tempo que divertidas, assim como a dobradinha feita por Renata e Leina Krespi ao longo da novela rendeu grandes momentos.

- Sueli Franco também estava hilária como a ambiciosa Cacilda, mãe de Carla (Maitê Proença), que fazia de tudo para que a filha se desse bem na vida; Rosamaria Murtinho estava impecável vivendo Loreta Pires de Camargo, uma socialite falida que fazia misérias com a tia Mena, mas depois correu desesperadamente atrás da fortuna deixada pela velhinha.


- Débora Duarte, que fazia uma professora de inglês que dividia o apartamento com Dóris (Kate Lyra), saiu no meio da novela. Sua personagem perdeu-se na trama e a solução foi improvisar um final prematuro. Num belo dia, deprimida, ela entre em um barco e se deixa levar pela correnteza para o fundo do mar. Tudo ao som da música "Love me Tender", na voz de Elvis Presley. Um bela cena que mostrou o suicídio da personagem, ainda que de maneira sutil.

- A cantora Olivia Newton-John participou da novela cantando seu grande sucesso da época, a música "Physical". Sua participação aconteceu durante a inauguração do Single's Bar, de propriedade dos personagens Silas e Carla.

- A cena em que as personagens da novela corriam atrás do cupido que continha a fortuna foi hilária. Tudo começou quando a empregada de Loreta, vivida por Chica Xavier, roubou o cupido, e mesmo tendo que fazer muita força para carregar o objeto pesado, fugiu com ele nas mãos, mas logo foi avistada por Loreta, que sai freneticamente atrás dela. A corrida atrás do cupido, em que grande parte do elenco da novela participou, culminou em casarão abandonado, onde o cupido passou de mãos em mãos, até que alguém o arremeça pela janela e ele cai diretamente nas mãos do mau caráter Carlito Madureira (Raul Cortez), que o segura e dança uma valsa com o cupido nas mãos, diante dos olhos atônitos de todos, que o observam pela sacada do prédio.

- Outra cena igualmente divertida foi quando Jordana e Vieira (Gianfrancesco Guarnieri) estavam sozinhos, no porão do pensionato, tentando abrir um dos cupidos com um maçarico para ver se era nele que estava a tão almejada fortuna. Os dois foram flagrados por Lívia e Gerônimo, que vêem seus pais suando, ofegantes e descompostos. Os dois logo pensam que o casal estava fazendo outra coisa naquele lugar escuro. Vieira fica mais indignado ainda quando é obrigado a ouvir as piadinhas do filho sobre o papai "garanhão".


O FINAL DA NOVELA


- O casamento de Gera (Mário Gomes) com Flávia, a "jacaroa do pantanal" (Angelina Muniz), é interrompido quando Lívia (Débora Bloch) faz uma declaração de amor e os dois fogem de bicicleta. A eterna briga do casal continua no final da novela, com os dois chamando um ao outro de "padeiro" e "lingüiceira" (Gerônimo trabalhava de padeiro no estabelecimento comercial do pai e Silas, pai de Lívia, vendia cachorro-quente quando era pobre), mas logo a briga termina quando Gera diz: "taí, até que dá um bom sanduíche". Os dois se beijam apaixonadamente.

- Vado (Gracindo Junior), depois de se separar de Rosana (Maria Zilda) por causa das armações de Mariúcha (Elizângela), volta para os braços da mulher. A empregada safada, por sua vez, vai trabalhar para uma outra família, e logo começa a atacar o novo patrão, usando suas mesmas armas de sedução.

- Carla (Maitê Proença), depois de sair sem nenhum tostão do casamento com Silas, continua ambiciosa, mas acaba com Adriano (Carlos Augusto Strazzer), o advogado responsável por sua ruína.

- Os milhões de dólares deixados por Dona Mena acabam indo parar nas mãos de Aurélia e Ilse (Leina Krespi), mas durante uma fuga, o saco que contém os dólares se rompe e o dinheiro vôa pela cidade, fazendo a festa da população pobre das vilas.

- No céu, Dr. Etevaldo (Cláudio Corrêa e Castro) se encontra com Dona Mena, e é obrigado a repetir pela última vez o bordão que o acompanhou durante toda a novela: "por favor, não me chame de Dr. Etevaldo porque eu nunca fui doutor!".

- Jordana relata a Silas, que finalmente percebeu que quer ficar com o homem que sempre esteve ao seu lado. O empresário sorri e diz: "eu, claro". Jordana corrige o ex-marido e o surpreende: "Não, o Vieira". Silas sorri cinicamente e diz que Vieira, a essas alturas, está bem longe, embarcando em um transatlântico para sua terra natal, Portugal. Jordana parte desesperadamente atrás do amor de sua vida, de helicóptero ou de lancha? Não lembro. Mas isso não importa. O importante é que ela o alcança e os dois vivem felizes para sempre porque no jogo da vida o verdadeiro amor sempre vence!

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Guilherme Staush





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