sábado, 29 de agosto de 2009

Tieta: 20 anos - Parece que foi ontem!
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por: Vitor Santos
http://euprefiromelao.blogspot.com/
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Pois, é! Quem diria que já faz 20 anos que a moça da foto de lá de cima que ilustra nosso blog chegava em Santana do Agreste para abalar todas as estruturas. Mesmo sendo um adolescente na época, a sensação que tenho é de que o tempo voou.

No dia 14 de agosto de 1989, entrava no ar pela Rede Globo de Televisão, o primeiro capítulo de “Tieta”, novela de Aguinaldo Silva, adaptada do romance de Jorge Amado, escrita por Aguinaldo, Ana Maria Moretsohn e Ricardo Linhares, com direção de Reynaldo Boury, Ricardo Waddington e Luiz Fernando Carvalho e direção geral de Paulo Ubiratan. Com todas essas feras reunidas, só poderia ser garantia de sucesso! A trama da cabrita rebelde (Claudia Ohana e sua brejeirice) que é expulsa da cidade e volta 25 anos depois para se vingar parou o país.
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O elenco é um capítulo à parte. Poucas vezes uma novela contou com um elenco tão bom, vivendo uma galeria de personagens tão carismáticos. Seria até injustiça destacar um ou outro, pois todos os núcleos fizeram muito sucesso. Joana Fomm, inesquecível como o ressentido tribufú Perpétua, deu uma aula de interpretação. Ela soube transitar entre o dramático e o farsesco texto de Aguinaldo com uma competência ímpar. Moralista ao extremo e viúva eterna do Major Cupertino, usurpava a irmã Tieta, moralizava a cidade, mas escondia um mistério dentro de sua caixa branca. Verdadeiro show!

Mas Joana não brilhou sozinha. Como esquecer da adorável solteirona Carmosina (Arlette Salles), melhor amiga de Tieta, que vivia no “caritó” à espera de um marido? As cenas de Carmosina emocionaram o país e Arlette fez ótima dupla com Miriam Pires, a inesquecível Dona Milu e seu bordão “Mistéééério”! Cinira (Rosane Goffman) e Amorzinho (Lília Cabral), as fiéis escudeiras de Perpétua, também entraram para a galeria de tipos inesquecíveis. Talentosas, as atrizes souberam driblar a caricatura fácil de suas personagens e mostraram a faceta humana existente nelas. Para os mais românticos, tinha Imaculada (Luciana Braga), a rolinha mais rebelde que o Coronel Artur da Tapitanga (Ary Fontoura, esplêndido) jamais conseguiu domar. Imaculada vivia à espera de seu príncipe Ricardo (Cássio Gabus Mendes) e ele veio de cavalo branco e tudo no último capítulo. A Madalena arrependida Leonora (adorável Lídia Brondi), que chegou à cidade com sua “mãezinha” Tieta, também encantou na luta por seu amor pelo prefeito Ascânio (Reginaldo Faria). No quesito “saliência”, Modesto Pires (Armando Bogus) era catedrático e divertiu nas cenas com sua teúda e manteúda Carol (Luíza Thomé, um pitel), que por sua vez, não resistiu aos encantos do garanhão Osnar (José Mayer). A maltratada Tonha (Yoná Magalhães), que antes de se transformar em “uma nova mulher”, sofreu bastante nas mãos do marido, o avarento Zé Esteves (Sebastião Vasconcellos, perfeito!) também ganhou a simpatia do público. Inesquecível. E a galeria de personagens e atuações antológicas não param por aí. Como esquecer de Paulo Betti e seu hilário Timóteo, Tássia Camargo e sua sonhadora Elisa, Cláudio Correa e Castro, Ana Lúcia Torre, Elias Gleiser, Flávio Galvão, Cláudia Alencar, Renato Consorte, Bete Mendes, Otávio Augusto, Maria Helena Dias, Françoise Fourton e Roberto Bonfim? Ainda no elenco, Bemvindo Sequeira, como o endiabrado Bafo-de-Bode, que bem lembrado por Guilherme Staush, era o único personagem que sabia de tudo, sobre a vida de todos, e, apesar de ser um pudim de cachaça, era um dos mais lúcidos habitantes de Santana do Agreste. Interessante como no decorrer da novela, ele, por diversas vezes, falava pelo próprio autor.

“Tieta” foi uma novela que, sobretudo representou o sentimento de liberdade que o Brasil experimentava naquele período de abertura política. Tramas ousadas desfilavam em nossa tela tranquilamente como a relação incestuosa entre tia e sobrinho, um coronel que abusava sexualmente de meninas, uma mulher que se vestia de branco e atacava os homens à noite e um triângulo amoroso entre um comandante da Marinha e duas mulheres. Mas tanta ousadia não seria possível sem o inspiradíssimo e delicioso texto de Aguinaldo Silva e sua equipe. A novela tinha um tom deliciosamente malicioso e sensual, sem nunca descambar para o vulgar. A direção, além de saber compreender e captar perfeitamente a essência sacana e brincalhona sugerida pelo texto, nos brindou com imagens de Mangue Seco de tirar o fôlego.
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A trilha sonora também é um show. Com mais de 1.100.000 cópias vendidas na época, as canções foram escolhidas a dedo e até hoje, quando ouvidas, dão um nó na garganta dos admiradores mais entusiasmados (como eu) e nos transportam imediatamente para aquela época. Destaco a belíssima “Coração do agreste”, que marca a volta triunfal de Tieta com arranjo belíssimo e interpretação inspirada de Fafá de Belém. O sucesso foi tanto que na reprise da novela foi lançada uma compilação dos dois volumes da trilha.
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Agora, como falar de “Tieta” sem mencionar aquela que considero a alma e o coração da novela? A protagonista, vivida magistralmente por Betty Faria. Bruno Barreto já disse uma vez, acertadamente, que Betty Faria não interpreta, ela se transforma na própria personagem, tamanha a sua entrega. Na pele de Tieta não foi diferente. Certamente a personagem mais marcante de sua vitoriosa carreira na televisão, a atriz esbanjou vigor, beleza, sensualidade e talento, tanto nas situações hilárias em que sua heroína se metia, quanto nos momentos mais emocionantes e intensos. Aliás, intensa é a palavra que a melhor define. Betty Faria soube fazer de sua Tieta um manifesto ao amor e à liberdade e suas cenas emocionam até hoje.
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Além do retumbante e indiscutível sucesso popular, “Tieta” merece sempre ser lembrada como uma novela que representou uma feliz união de todos os seus elementos: texto, elenco, direção, trilha sonora, equipe técnica, tudo funcionando na mais perfeita harmonia. Lembranças felizes de uma época de exacerbação de liberdade e criatividade.
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Colaboraram neste post: Aladim Miguel, Guilherme Staush e Ivan Gomes.
Aos três, meu muito obrigado!
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3 comentários:

Duh Secco disse...

Tieta é sensacional! Tive o prazer de acompanhar na reprise. O texto tá ótimo. Parabéns, Vitor!

Fernanda S disse...

Um primor o seu texto. Esta novela é inesquecível, a vejo completa pelo youtube!!

Unknown disse...

Fiquei emocionada ao ler seu texto. Também sinto um nó na garganta ao ouvir "Coração do agreste" na voz da Fafá. Traz recordações de uma novela e de uma época muito feliz. Não posso deixar de anotar que é uma tristeza que atrizes da qualidade da Betty Faria e da Joana Fomm não recebam atualmente o reconhecimento que lhes é devido. Fico mais triste ainda ao ver a qualidade das novelas atuais que não se comparam a "Tieta do Agreste". Tantos atores com pouco ou nenhum talento desfilando na TV...é simplesmente uma decepção. Felizmente ainda temos atores como Betty, Joana, Fernanda Montenegro, José Wilker que conseguem transformar personagens banais em grandes personagens, dando aulas diárias de interpretação.