sábado, 30 de outubro de 2010











FESTIVAIS DE MÚSICA
Música boa era sinal de audiência alta na programação das emissoras de TV



Por Thiago Henrick


Saudações aos leitores do Memória da TV. Sabemos que a música brasileira é riquíssima e sempre teve vez na mídia e nos meios de comunicação. Especificadamente na televisão, houve um tempo em que o espaço delimitado para nossa música era imenso! Dezenas de festivais de música eram disponibilizados ao público em horários nobres e acessíveis, fazendo a família toda se reunir e torcer com fervor pelos shows televisionados e suas competições realizadas. Mais ainda: muitos artistas consagraram suas carreiras graças a aparições lendárias em programas diversos.


Esse prestígio era ofertado desde os primórdios das transmissões televisivas, no comecinho da dos anos 60. E, desde então, cada década teve seu expoente musical: artistas que faziam sucesso no rádio e os de maiores vendagens de discos eram imediatamente correlacionados à televisão e vice versa. A Jovem Guarda, por exemplo, chegou a ter um programa próprio exibido pela Record, em 1965. Na mesma década de 60, o movimento musical de cunho político, Tropicalismo, ganhou destaque graças a apresentações lendárias de artistas como Caetano Veloso nos festivais de música popular brasileira (esses, sem dúvidas, as mais lembradas expressões da música na história da televisão, tendo inúmeros tipos ainda nas décadas de 70 e 80).


Já na década de 80, MPB, rock e romantismo eram harmonicamente dispostos no programa Globo de Ouro, apresentando em horário nobre pela Rede Globo. Além disso, quem estava no auge logo se tornava convidado de programas de auditório ou tinha seus videoclipes apresentados com destaque na época do lançamento (o Fantástico, desde a década anterior, era perfeito pra isso!). A mesma emissora proporcionou com destaque, na década de 90 grandes especiais do estilo musical que dominava no momento, o Sertanejo (como o “Amigos”, onde as principais e mais famosas duplas sertanejas se encontravam a cantavam simultaneamente seus sucessos). E muito mais: a Rede Manchete era espetacular para apresentar especiais musicais-solos de artistas com destaque, fazendo merchan demasiado de seus shows (o de lançamento de Marisa Monte, com seu show “MM”, em 1988, é um grande exemplo); a MTV estreou com uma proposta muito maior do que simplesmente apresentar videoclipes – passou a produzir também acústicos de artistas nacionais, tal quais as demais filiais do mundo faziam, com destaque para os acústicos de Gilberto Gil (1994), Gal Costa (1997) e Cássia Eller (2001).


Hoje é que, infelizmente, o espaço pra novidades de nossa música fica restrito a programas de emissoras especializadas em cultura, como a própria TV Cultura. Globo e Record (atuais líderes de audiência), não dispõem mais horários para programas, senão em alguns bem alternativos, como o repaginado Som Brasil. Foi-se o tempo em que a música de qualidade era prestigiada tal qual final de capítulo de novela ou reality shows. Seria desinteresse do público? Ou da parte dos diretores de TV? Será que hoje em dia um especial de Maria Bethânia apresentando show novo seria contemplado com mesmo prazer do de décadas atrás? Dúvidas que permanecerão. Mas hoje é dia de relembrar! Então o Memória da TV faz um breve passeio sobre alguns festivais musicais de nossa trajetória televisiva. Fica a saudade e o lamento por um tempo não vivido por muitos.



1) FESTIVAL DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA (TV EXCELSIOR E TV RECORD)
Sem dúvidas, um dos programas mais lembrados e históricos para quem admira o gênero. Fez história em diversas emissoras, popularizou uma série de cantores que alcançaram logo o estrelato; divulgou outra dezena de compositores talentosos e até hoje é referência. A seguir, os relevantes acontecimentos do festival em diversas emissoras.


NA EXCELSIOR – A pioneira emissora foi escolhida para sediar o I Festival da Música Popular Brasileira, ocorrido em 1965. Elis Regina conquistou o primeiro lugar com a música “Arrastão”, composição de Edu Lobo e Vinicius de Morais. Inegável constatar que a grande projeção de Elis se deu graças a esta interpretação.


NA RECORD – A emissora de Edir Macedo sediou duas edições lendárias do referido Festival. Em 1966, na II Edição, a dupla Chico Buarque e Nara Leão – uma das mais clássicas da nossa MPB, levava o troféu “Viola de ouro” com a festiva canção “A Banda”. Ao lado deles, Jair Rodrigues e os trios Maraiá e Novo também eram premiados com “Disparada”, de Geraldo Vandré. Notem que os compositores eram tão ovacionados quanto seus intérpretes, diferente de hoje em dia.


Em 1967 acontecia a III edição do festival onde competiam Chico Buarque, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Edu Lobo. Foram apresentações tão lendários que rendeu um filme-documentário, intitulado Uma Noite em 67, de Ricardo Calil e Renato Terra. No primeiro lugar, “Ponteio” de Edu Lobo e Capinam. No segundo, os novatos Mutantes venceram com a conhecidíssima e lúdica “Domingo no Parque” e se apresentaram junto a seu compositor Gilberto Gil, com um arranjo mais “guitarreiro”. Chico Buarque e a fantástica “Roda Viva” levou o bronze, e se apresentou com o MPB-4. Caetano alegrou o festival com a emblemática “Alegria Alegria” ficando em quarto colocado. E o nem tão rei nesse dia Roberto Carlos ficou em quinto, com Maria Carnaval e Cinzas. Quem mais também queria ter visto?


As edições seguintes também foram bem sucedidas, mas nem de longe alçaram a popularidade da edição de 67. Convém destacar que Gal Costa foi a revelação absoluta nesse período, cantando “Divino maravilhoso”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil. A baiana, de início, causou estranheza no público, que logo se rendeu à magistral interpretação que eternizou nossa grande cantora. Rita Lee, Tom Zé e Aguinaldo Rayol foram destaques dessas edições.



2) FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO (REDE GLOBO)


Eis que a emissora de Roberto Marinho também se manifesta e desde seus primeiros anos abre espaço para os festivais musicais, trazendo fama a uma infinidade de artistas que depois se consagrariam. Os shows eram no Maracanãzinho e o prêmio era o Galo de Ouro.
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A primeira edição do festival, contudo, aconteceu na TV Rio em 1966, com Nana Caymmi premiada. A segunda, já, na Globo propriamente dita, Milton Nascimento teve seu talento revelado no festival ao cantar “Travessia”, histórica parceria sua com Fernando Brant e que foi a canção vice-campeã. Na terceira edição, em 68, Beth Carvalho ganhou fama nacional com a melhor interpretação da canção Andança, de Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós. A clássica “Pra Não Dizer que não falei das flores’, de Geraldo Vandré, também fica super conhecida nesse ano, que também teve como momento marcante Caetano deliberadamente ostentando contra a censura com seu hino “É Proibido Proibir”.

E a Globo seguiu religiosamente com o festival até 72, quando Jorge Ben foi o compositor vencedor por “Fio Maravilha”.


3) DEMAIS FESTIVAIS (várias)


a) FESTIVAL NACIONAL DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA – Aconteceu na extinta TV Excelsior, no ano de 1966. Esse festival marcou por ter apresentado Chico Buarque ao Brasil, com a música “Pedro pedreiro” onde demonstra bem o estilo do cantor com versos rigorosamente trabalhados unindo um estilo morfológico único e a politização que virou sua marca registrada. Apesar da projeção em cima de Chico, não foi ele quem levou o primeiro lugar. Ee sim Geraldo Vandré, com a música “Porta-Estandarte”. No mesmo ano, Chico venceria com Elis no festival na Record, como mostrado no tópico anterior.


b) FESTIVAL ABERTURA (REDE GLOBO, 1975) – Destaques: Carlinhos Vergueiro, Alceu Valença e Luiz Melodia, cantor e compositor e “Ébano”, apresentada no festival; Djavan chamou atenção também neste evento, com a interpretação de “Fato Consumado” dando início a uma consagrada carreira de MPB romântica do alagoano.


c) FESTIVAL DA MPB (TV TUPI, 1979) – Destaque para Fagner, Walter Franco, Oswaldo Montenegro (com a ótima “Bandolins”) e “A Cor do Som” interpretando “Palco”, de Gilberto Gil.

d) MPB 80 (REDE GLOBO, 1980) – A Rede Globo, por um bom tempo permaneceu porta-voz dos festivais de MPB e a cada ano criava um novo. Esse foi histórico por suas participações. SANDRA SÁ (como a cantora assinava na época) ficou conhecida nesse especial com a excelente “Demônio colorido”. Cantaram também nesse festival: EDUARDO DUSEK (Nostradamus), FÁTIMA GUEDES (Mais uma boca) e LECI BRANDÃO (Essa tal criatura). O programa rendeu um elogiado cd, com Oswaldo Montenegro abrindo o disco com sua “Agonia” (inclusive, um vídeo recentemente disponibilizado no Memória da TV).


e) MPB SHELL (REDE GLOBO) – A primeira edição ocorreu em 1981 e já teve uma grande polêmica: Lucinha Lins vencia interpretando “Purpurina”, de Jerônimo Jardim, mas foi exposta a uma vaia de quase dez minutos, vinda dos fãs de “Planeta Água”, de Guilherme Arantes, a então aclamada pelo público como melhor canção. Já a edição de 82 consagrou Emílio Santiago, que vencia com “Pelo Amor de Deus”, de Paulo Debétio e Paulinho Rezende.
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f) FESTIVAL DOS FESTIVAIS (REDE GLOBO) – Este ocorreu em 1985 e sempre será lembrado por ter o mérito de ter projetado a carreira de Leila Pinheiro, até então pouco conhecida, com a música “Verde” que na mesma época estourou nas rádios. Porém, “Escrito nas Estrelas”, de Paulo Debétio e Paulinho Rezende, interpretada pela vanguardista Tetê Espíndola, levou o primeiro lugar. Foi o grande sucesso nacional daquele ano.

6 comentários:

Anônimo disse...

Ótima a presença do dono do Enthulho nesta revista. Artigo excelente! Por outro lado, péssimo ver o quanto a música de qualidade perdeu espaço na nossa TV. Lamentável...

Guilherme Staush disse...

Também achei! Ótimo passeio musical através dos festivais da TV!

Jorge disse...

Ótimo tema, grande época. Os festivais misturavam MPB, música de protesto, Jovem Guarda e tudo mais, sem precocenceitos.

Quer dizer, quase. Inesquecível a imagem do Sérgio Ricardo quebrando o violão no palco, hahahah.

Juliano G. Bonatto disse...

Teve também o festival da Música Brasileira da Globo, em 2000, nao teve?

Nao teve nenhuma repercussão. Foi tão ruim que nunca mais houve outro na emissora.

;)

Anônimo disse...

Eu lembro, Suzy! Nesse festival da Globo, em 2000, o vencedor foi o tempo todo vaiado. Um final terrível para um festival tão ruim quanto.

Anônimo disse...

Interessante o resultado da matéria, Thiago. Gostei da idéia da revista. Memória é fundamental preservar.

Com relação ao atual cenário musical, creio que a culpa das gravadoras, que investem em sucessos instantaneos como forma de garantir tão-somente o lucro financeiro.

Ah, e é mito essa coisa de dizer que o brasileiro quer ouvir essa porcaria toda que toca nas rádios FM e nos programas de auditório hoje. Ocorre, em verdade, um massacre e faltam alternativas. Talento não falta, é bom deixar claro.

Um abraço, Thiago.