40 INTERPRETAÇÕES FEMININAS ANTOLÓGICAS DA TV - Parte 4 (final)
por Guilherme Staush
31. LÍLIA
CABRAL (Páginas da Vida) - 2006

Resposta: essa grande atriz
defende tão bem sua personagem, que acaba engolindo atrizes menos experientes,
e fazendo com que boa parte do público acredite mais nas suas razões do que
propriamente nas razões de quem deveria ser a vítima da história.
Foi assim que Lília Cabral
provou definitivamente ser uma das maiores atrizes brasileiras da atualidade. Quando
uma atriz realmente acredita (e entende) nos motivos que levam sua personagem a
agir de uma certa maneira, acaba defendendo tão bem essa personagem, que o público
acaba acreditando (e aceitando) suas razões. Marta foi bem mais convincente do
que Nanda (Fernanda Vasconcellos), e acabou ganhando o apoio de muitos
telespectadores nas diversas brigas que teve com a filha.
Mesmo com uma interpretação
intensa, visceral, nunca pecou por exageros, conseguindo passar a carga de
dramaticidade essencial em cada cena. Os duelos entre Marta e o marido (Marcos Caruso) entraram para a história, e
marcaram os melhores momentos de Páginas da Vida.
A cena em que Marta friamente
repudia a neta, que nasceu com a síndrome de Down, deixando-a para a adoção,
está entre as melhores já protagonizadas pela atriz. E olha que sua parceira de
cena foi ninguém menos do que Regina Duarte!
32. REGINA
DUARTE (Roque Santeiro) - 1985
Falando em Regina...
Porcina sempre estará na lista de todos que se propuserem a relembrar os tipos memoráveis da
televisão. Mais uma criação extraordinária da atriz, que se libertava de vez das
heroínas cheias de princípios
e recatos que sempre permearam sua carreira, dando vida à uma mulher
escandalosa e divertida. Em 1984, a atriz rompeu definitivamente
a imagem que a consagrou, arriscando-se em projetos
bem diferentes: fez o seriado Joana
em uma produtora independente, e o ousado filme Além da Paixão, onde protagonizou cenas de nudez e sexo ao lado do
ator Paulo Castelli.
Porcina, definitivamente, marcou
uma nova fase de Regina na TV, e o público passou a idolatrar ainda mais (e
merecidamente) uma das nossas mais talentosas atrizes de todos os tempos.
33. ELOISA
MAFALDA (Pedra Sobre Pedra) - 1992

34. MYRIAM
PIRES (Locomotivas) - 1977
Dominadora, mal-humorada,
rabugenta e manipuladora. Com tantos adjetivos adoráveis, dona Margarida acabou sendo uma das grandes
sensações da novela Locomotivas. A mãe que sufocava o filho, Netinho (Dênnis
Carvalho), na tentativa de afastá-lo de todas as mulheres que se aproximavam
dele, rendeu à Myriam Pires um de seus melhores momentos na TV. A atriz deitou
e rolou nos momentos de malvadeza da personagem. Dissimulada da raiz do cabelo
ao dedão do pé, Margarida aprontava poucas e boas paras as coitadas que ousavam
chegar perto do moço.
Em uma das cenas, por
exemplo, após receber a visita de uma das pretendentes de Netinho, e ser
presenteada com um buquê de flores, a megera, após a saída da moça, espalha
todas as flores pelo chão do apartamento e se debulha em lágrimas, cinicamente,
contando ao filho "todas as ofensas que sofrera".
35. JOANA
FOMM (Dancin’ Days) - 1978

Joana brilhou, sobretudo nas
cenas em que sua personagem humilhava a irmã, jogando na cara dela que sua
filha jamais a aceitaria pobre, ex-presidiária, e com aquela aparência infame.
36. NATHÁLIA
TIMBERG (Força de um Desejo) – 1999
Nathália é outra
colecionadora de personagens cruéis na TV. Em Força de um Desejo, criou mais um tipo inesquecível de Gilberto Braga: a vilã interesseira e manipuladora, que usa de todas as artimanhas para separar o casal apaixonado: chantagem, cartas adulteradas, e mil e uma intrigas. Não é preciso dizer que a atriz tirou tudo isso de letra, e, como sempre, causou muita revolta nos telespectadores. Sua Idalina foi um sucesso! Mérito do trabalho extraordinário de uma atriz muitas vezes injustiçada na TV.
A cena em que a mocinha Estér Dellamare (Malu Mader) expulsa a megera da fazenda onde moravam foi uma das mais festejadas pelos telespectadores da novela.
A cena em que a mocinha Estér Dellamare (Malu Mader) expulsa a megera da fazenda onde moravam foi uma das mais festejadas pelos telespectadores da novela.
37. DINA
SFAT (Fogo Sobre Terra) – 1974
As personagens de Dina, assim
como ela mesma, eram mulheres de personalidade forte: Risoleta, Zarolha, Paloma,
Amanda, Fernanda, e tantos outros tipos criados pela atriz. Chica Martins, de
Fogo Sobre Terra, foi mais uma das mulheres irreverentes que permearam a carreira da
atriz, fugindo do estereótipo da mocinha frágil e romântica. A atriz esteve impecável
como a mulher que foi alvo de disputa dos irmãos Diogo (Jardel Filho) e Pedro
Azulão (Juca de Oliveira), ganhando, inclusive, vários prêmios como melhor
atriz daquele ano.
38. LAURA
CARDOSO (Mulheres de Areia) – 1993
As gêmeas Ruth e Raquel, de
Mulheres de Areia, tinham a personalidade bem diferente. Enquanto a gêmea boa
era bem parecida com o pai, o pacato pescador Floriano (Sebastião Vasconcelos), a gêmea má
era ambiciosa como a mãe, Isaura, um
dos papéis mais marcantes de Laura Cardoso na TV. A atriz interpretou magistralmente
a mulher de vida simples, porém ambiciosa e de caráter duvidoso, que defendia e
alimentava as razões da filha em querer ter uma vida melhor, sem medir esforços
para deixar de ser simplesmente uma “caiçara fedendo a camarão”. Laura brilhou
em um núcleo da novela repleto de tantos talentos, como Sebastião Vasconcelos, Glória
Pires e Marcos Frota.
39. CÁSSIA
KISS (Porto dos Milagres) – 2001
Jamais aceite qualquer coisa
que Adma Guerreiro lhe oferecer para
beber. Uma das maiores vilãs do horário nobre, a personagem costumava matar
suas vítimas com veneno. Aliada a outro grande vilão da novela, Félix Guerreiro
(Antonio Fagundes), a serial killer não
mediu esforços para alimentar sua ambição, e conquistar o poder absoluto. Um
trabalho excepcional de Cássia Kiss, que ficou grávida do terceiro filho
durante a novela, tendo que esconder sua barriga dentro de figurinos mais soltos. A atriz criou um tipo mais
denso, sem o humor que se tornou característico entre as vilãs da época, dando
mais veracidade às maldades da personagem. Um trabalho inesquecível da atriz,
que na época já estava graduada em matar pessoas na ficção.
40. FERNANDA
MONTENEGRO (Guerra dos Sexos) - 1983
Nunca houve uma mulher como Charlô, nem na teledramaturgia e nem
fora dela. Fascinante, aventureira, inteligente, e uma típica lutadora dos
direitos femininos. Obrigada a conviver (em casa e no trabalho) com o primo
machista e mau caráter, ela provou ser uma verdadeira guerreira na luta contra
a opressão masculina, mostrando que as mulheres estão acima dos homens, e que
competência independe de sexo.
Um brilhante exercício para
Fernanda Montenegro, que mostrou, impecavelmente, através do ótimo texto de
Sílvio de Abreu, todo o vigor e todas as nuances exigidas por uma das
personagens mais fascinantes da nossa teledramaturgia.
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